Ronaldo Lima Lins

Doutor pela Sorbonne (Universidade de Paris III), tem pós-doutorado na École de Hautes Études en Sciences Sociales e ocupa a posição de Pesquisador IA do CNPq. É Titular de Teoria da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ, instituição que dirigiu por duas vezes. Publicou obras de ficção (Os grandes senhores; Material de aluvião, ambos em Portugal; A lâmina do espelho; As perguntas de Gauguin; Jardim Brasil: conto) e ensaio (O teatro de Nelson Rodrigues, uma realidade em agonia; Violência e literatura; Nossa amiga feroz,breve história da ‘felicidade’ na expressão contemporânea, O felino predador, ensaio sobrea história maldita da verdade, A indiferença pós-moderna, e A construção e a destruição do conhecimento). Seu último livro (de poesias) chama-se Mais do que a areia menos do que a pedra (Editora 7 Letras).

terça-feira, 17 de maio de 2011

Os alunos do prof. Ronaldo Lima Lins têm o prazer de convidar a todos para a homenagem pelos seus 70 anos:

AO MESTRE, COM CARINHO
                                               Ronaldo Lima Lins ao pé da Letra


Abertura: dia 31 de maio
Local: Auditório G-1 da Faculdade de Letras

- 8:00h 
Júlio Dalloz – Prof. Dr. Faculdade de Letras / UFRJ (Mediador)
Jorge Fernandes da Silveira – Prof. Titular da Faculdade de Letras / UFRJ
Víctor Manuel Ramos Lemus – Prof. Dr. Faculdade de Letras / UFRJ

- 8:30h: Exposição 
Obras de Ronaldo Lima Lins

- 9:00h: A Ficção
Henrique Cairus – Prof. Dr. Faculdade de Letras / UFRJ (Mediador) 
Beatriz Resende – Prof.ª Dr.ª Escola de Teatro / UNIRIO / Fórum de Ciência e Cultura / UFRJ
Dau Bastos – Prof. Dr. Faculdade de Letras / UFRJ 
Mário Newman – Prof. Dr. ICHS - Curso de Letras / UFRRJ  

- 10:30h: O Ensaio
Theotonio de Paiva – Dramaturgo, diretor de teatro e pós-doutorando / UFRJ (Mediador)
Vera Lins – Prof.ª Dr.ª Faculdade de Letras / UFRJ
Iza Quelhas – Prof.ª Dr.ª Faculdade de Formação de Professores / UERJ
Nilton José dos Anjos – Prof. Dr. Faculdade de Filosofia / UNIRIO 



Dia 1º de Junho:

- 9:00h: A Poesia
Carmen Lúcia Negreiros de Figueiredo – Prof.ª Dr.ª Instituto de Letras / UERJ (Mediadora) 
José Carlos Prioste – Prof. Dr. Instituto de Letras / UERJ
Sérgio Nazar – Prof. Dr. Instituto de Letras / UERJ 

- 10:00h – Apresentação de poemas do livro Mais do que a areia menos do que a pedra, de Ronaldo Lima Lins pelos estudantes da Faculdade de Letras

- 11:00h – Mesa de Encerramento:
Vera Lúcia Nunes – Prof.ª Faculdade de Letras / UFRJ (Mediador)
Auto Lyra Teixeira – Prof. Dr. Faculdade de Letras / UFRJ
João Eduardo Fonseca – Chefe do gabinete do Reitor / UFRJ
Renato Pardal Capistrano – Mestrando em Teoria Literária / UFRJ

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Tijolo por tijolo

(voz: Rayssa Galvão)

A casa onde habito
é a possível.
Não é a dos meus sonhos.

Foi construída
tijolo por tijolo,
sem que eu soubesse
como ou por quê.

Não usei engenheiros
ou arquitetos
e não tirei licença
na Prefeitura.

Não empreguei
argamassa, pedra,
madeira ou cimento.
Nem a projetei.

Ela se ergueu.

Quando vi,
estava lá.

Tinha nome,
certidão de nascimento
várias cicatrizes,
alguns sacos
de entulho a descartar,
de momentos
espalhados pelos cantos.

Nela me abrigava
como num castelo.
Somente ao sair
descobria que precisava
de pessoas,
de movimento,
das formas do mundo.


Estranha casa essa,
sem planejamento,
cálculo das estruturas,
frágil e sólida
ao mesmo tempo.

Graças a ela,
com as portas e janelas abertas.
escrevo o que represento.

Procuro ser sincero,
sem retoques nas cores
e no desenho original.
Não me importa
o impacto que exerço
sobre os vizinhos.

Não é casa
que alguém defenda,
além de mim,
é claro.
Não aparece
nos manuais de arquitetura,
protegida
pelas leis do patrimônio
nas áreas de preservação.

É onde moro.
Ali sou
o que nunca sou
fora dali.

Quando a observo,
curvando-me
sobre mim mesmo,
vejo que
(apesar dos raios
nas tempestades,
do sol no verão,
do frio e do calor)
-- enquanto não lhe chega
a hora,
aprendeu a resistir.
Tem as minhas medidas:
metros de comprimento,
pouco menos de largura
e uma alma
que me faz
melhor do que sou.

Ter e perder

(voz: João Pedro de Sá)

Tê-la
foi como sair de uma floresta
e receber, num choque,
imagens, sensações, êxtase e medo,
tudo ao mesmo tempo.

Foi como supor
que as palavras encontram
um dia
a grandeza esperada
e justificam
a longa e necessária prova.

Foi como explicar
o inexplicável
garantir a permanência
de todas as fugacidades.

Foi como transformar
em líquido a solidez do corpo
e beber
o fluido inebriante
da comunicação.

Vê-la
foi como assumir
que a angústia só existe
para se chegar lá
e descongelar,
diminuindo a temperatura,
os obscuros recantos da alma.

Foi como abolir a moral
e os bons costumes
roçar a doce
manhã das aventuras.
e descobrir a magia
da transmutação de valores.

Foi inaugurar
uma fase de sucessos
e sentir nos poros
um sopro leve
e gostoso de paz.
Foi verificar
que o ideal e o real,
articulados,
não terminam,
por mania de grandeza,
dentro de um hospício.

Tocá-la
foi como despertar
de um sono profundo,
trocar a manhã pela noite,
e sonhar,
dizendo a si mesmo
que jamais dormiu.

Foi consagrar
o Tempo como contratempo
sacudir o tapete do espaço
remover o pó das expressões
para depositar sobre a mesa
a taça inventada do sublime.

Foi segurar nas mãos
a lógica absoluta das possibilidades,
infringir as leis da física
e inaugurar dimensões
incompatíveis com a razão.

Foi combinar
o certo com o errado,
construir equilíbrios
sobre o desequilíbrio
tocar violino nos
telhados de Paris,
voar sabendo que retornaria.

Perdê-la
foi como
nadar sem balão de oxigênio
e respirar
querendo parar de respirar.
escorregar num sabão
e não poder se levantar.
Foi rodar
e rodar e rodar
até se confundir
como se não tivesse
valido a pena

e recuar,
entender que os limites
ultrapassados
têm a ver com o sim,
mais do que com o não.

Foi como andar na chuva
e não se molhar.

Estar

(voz: Sebastião Edson Macedo)

Existir não se mede
pelos ganhos,
não se mede pelas perdas.

Mede-se pelo modo
de estar,
como se cada minuto fosse
o último,
como se o último fosse
o primeiro.

Existir não se escreve
a giz,
no quadro--negro de um programa,
com as letras
da disputa
sobre o papel doce
das facilidades
-- para apagar depois.

Entende-se a
existência
quando se entende
a urgência,
com a sensação de angústia
da determinação de chegar.

E, no meio do caminho,
no desespero de ser
e de deixar de ser,
quando se perdem
as apostas,
a energia falta
e as luzes se apagam,

Existir significa
continuar.

Marcar a presença
com o traço da decisão
pela promessa apenas
do amanhã

E dizer: -- Sou.

Chocolates de Pessoa

(voz: PH Wolf)

Os chocolates de Pessoa
têm um sabor amargo.
Não se dissolvem na boca,
não lembram festas juninas.

Não se assemelham aos voos
que atravessam os dias de sol
em céu (livre) de brigadeiro,
com paladar de reconciliação.

São doces da maturidade
cozidos com ingredientes
exóticos entre pitadas de
sal e frutos da consciência.

Formam navios à deriva de
navegações sem farol sobre os
mares em fúria de ideais traídos.

Engolem a metafísica na arte
do reconhecimento, inclusive
nas noites quentes e lânguidas
do verão das nossas angústias.
Não se dobram às apreensões
e não se encaixam nas peças
malfeitas dos jogos de armar
de adultos em estado de ilusão.


São chocolates que comemos
para saciar uma fome esquisita:
a dos caminhos do nada.

Película fina

(voz: João Pedro Fagerlande)

Entre o ver e o não-ver,
há uma película fina.

Não adianta pegá-la.

Fora do alcance
das mãos,
flutua,
acima dos sentidos.

Ri das certezas.
Gosta do silêncio e da noite.

Todos os desejos,
na sua concepção,
devem agir como
os anjos: dançar
o bolero de Ravel.

O entendimento
e a eficiência,
as preocupações
do nosso tempo,
não lhe tiram a calma.
Faz dos dois
gato-e-sapato.

A matéria
-- e suas formas --
sofre com isso.
Não sabe romper
os seus impasses.

Do lado cá,
sopra um vento
nervoso.
Do lado de lá,
uma vontade frustrada
de brincar o carnaval;

Sofrimento inútil.

Não aprendemos
que uma coisa e outra
quando caem sobre nós
imitam os felinos:
rosnam de fome e de saciedade

Medo

(voz: Maria Caú)

Eu não tenho medo
de fantasmas;
nem de mim,
do que sou capaz.

Não temo o acaso,
a idade, a morte.
As guerras,
diante das fragilidades
da matéria,
me soam naturais.

Difícil seria a paz,
quando nascemos
na dor.

Custei a entender
a anatomia do medo,
o momento em que o felino
assalta o espírito.

As florestas e os desertos,
contrários como são,
imitam-se na escuridão
das ameaças.

Medo que apavora
é o medo de estar só.
Olhar em volta
e não reconhecer ninguém,
não se reconhecer.

Isolados, os soldados
perdem o uso das pernas
antes que a explosão
as leve pelos ares.

Eu,
capitão das minhas batalhas,
errei na ânsia de acertar.


A anestesia que me
ganhou o corpo
tinha um encanto
traiçoeiro,
ao mesmo tempo
sedutor e voraz.
A marca das marcas
do Demônio.
Medo é o que não posso
e não devo ter.
É como uma segunda natureza,
que faz da primeira
um joguete.
Mas se não posso
e não devo
-- e continuo tendo,
mais forte do que eu
é minha segunda natureza,
aquela pela qual
não me responsabilizo;
a que, mesmo não querendo,
me diz respeito.

Que me perdoem os anjos,
o próprio Deus.
Que me perdoe a vontade,
que tenho de sobra
e insuficientemente.
Que me perdoem
as certezas e as hesitações.

É coisa minha.
Tenho medo
de ser menos do que humano,
pior do que os animais.

Tenho medo
de não ter medo.

O amanhã II


(voz: Julia Pastore)

Se eu nascesse amanhã,
arquiteto ou construtor,
poeta, pintor ou narrador,
faria da Terra um planeta
sem rusgas e sem arestas

Não projetaria para ele
um campo de rosas que
resistissem aos furacões.

Buscaria a beleza da
fragilidade, a ligeireza
e a limpidez das cores,
a suavidade dos gestos.

Onde houvesse força,
desenharia aflições;
onde houvesse nação,
descobriria gente.

Não reservaria um espaço
para o sucesso, para o poder
ou para os tempos de glória.

Escreveria a história
pelos lados da paixão.
Rejeitaria a indiferença,
as reservas e a malícia.

Não precisaria de uma
paisagem para sustentar
sonhos de grandeza e
de afirmação retórica.

Montanhas e planícies
enfeitariam como aqui
os quadros do cenário.

Dinheiro, melhor seria
eliminá-lo, se possível
junto com a pretensão.

Se eu nascesse amanhã,
estenderia um tapete
branco para a humildade.
A imaginação ocuparia
um lugar de destaque,
e a sensibilidade venceria
da inteligência entre as
virtudes do caráter.

Se eu nascesse amanhã,
lançaria contra a miséria
as armas da infantaria.

Mas se um dia descobrisse
que o ontem está no hoje e
que ambos se encontram no
depois, no rastro do infinito,
se me alcançasse a certeza
da inutilidade dos projetos,
com a derrota de todos os
esforços e romantismos,
não diria: Chega. Nem: Desisto.


Mesmo que fosse
apenas para me enganar,
sentaria diante de um piano
e, com as notas que ignoro e um talento
que não possuo, experimentaria uma multidão
de sons contraditórios
na execução de uma peça
em busca da harmonia.

Escrito em pedra, a cinzel, com a suavidade da areia


  (voz: Cinda Gonda)
Exigir do sol
mais do que o brilho.

Tirar do brilho
mais do que o calor.

Compreender o calor
como um sopro de confiança.

Receber a confiança
com expressão de êxtase.

Retirar do êxtase
uma vontade de ser.

Considerar a vontade
um esforço de fraternidade.

Ver a fraternidade
como coragem.

Exercitar a coragem como um vigia,
com os sentidos em alerta.

Injetá-la nas veias
e respirar, reconfortado.

Estourar os ossos
de tanto se empenhar.

Rasgar o corpo porque se expôs.

Aprender a contornar a dor.

E dizer,
sufocando de paixão,
que valeu a pena.

Velas da realidade




(voz: Ronaldo Lima Lins)
Furar o instante.
Fugir dele.
Se fosse possível
atravessá-lo com um tiro,
eu acionaria os gatilhos do tempo
e mudaria
de corpo, de alma, de condição.

Romperia as barreiras
da limitação
e decretaria a vitória
do grau zero
sobre a matemática do infinito.

Um corpo se costura.
A alma não se costura.

Carrega o peso das operações
malsucedidas.
Não supera os dias.
Guarda-os nas gavetas
líquidas de seus arquivos.

É rua de mão única,
sem endereço,
sem porto de chegada.

O melhor dos cirurgiões
não extrai esses tumores
encravados nos instantes.

Um que levei no coração,
tentando transferi-lo
de um lugar para outro,
enquanto fingia
que tudo ia bem,
sangrou tanto
que me tirou o fôlego
e a capacidade de reagir.

Fiz como os esportistas
frustrados.
Nadei na lagoa seca
das fábricas do insucesso.

Uma agulha esterilizada
lancetou o caroço.
Devolvido à insignificância,
conservou, mesmo assim,
sua presença invisível.

Um corpo se costura.
A alma não se costura.

Nenhum fio lhe junta os pedaços.
Nenhuma linha resiste,
sem romper,
ao tecido avesso de sua máquina
indecifrável.
É matéria para consumir
a energia da luz;
escuridão que parece orientar
– e desorienta.

Melhor não pensar que liberta,
porque não liberta.
Solta as amarras da inteligência
apenas para provar que não prova.

E sopra as velas da realidade
nas festas à fantasia da ilusão.

domingo, 15 de agosto de 2010

Nota no Gente Boa de domingo, 15 de agosto de 2010











Ronaldo Lima LINS lança livro de poemas terça-feira, no Arteplex.

Nota no Prosa & Verso de sábado, 14 de agosto de 2010


Agenda: Terça-feira, dia 17 de agosto, lançamento de Mais do que a areia menos do que a pedra.

Entrevista

Entrevista publicada em 3 de agosto de 2010. Fonte: http://www.olharvirtual.ufrj.br/2010/index.php?id_edicao=306&codigo=9

Entrelinhas

“Mais do que areia menos do que pedra”

Rodrigo Baptista



Inspirado pela efervescência cultural e pelo diálogo com estudantes da Faculdade de Letras (FL) durante o período em que foi diretor da unidade, o professor Ronaldo Lima Lins lança, pela editora 7 Letras, seu 12º livro, o primeiro de poesias: “Mais do que areia menos do que pedra”, no dia 17 de agosto, às 19h, na Blooks Livraria (Praia de Botafogo, 316 Botafogo, Rio de Janeiro). O autor, que possui uma obra literária constituída por romances e ensaios, reúne, neste novo livro, poemas distribuídos em três conjuntos, que tratam de forma sutil dos interstícios: “Mais do que Areia menos do que terra”, “O direito pelo avesso, o avesso pelo direito” e “Chegar para partir”.

Olhar Virtual: Como foi organizado o livro?

Ronaldo Lima Lins: Cada parte tem uma orientação que está no título, portanto dali por diante é uma espécie de voo, que é o voo da poesia pelo universo interior, pela articulação entre interior e exterior, retomada de linhas poéticas de língua portuguesa e estrangeiras sem isolar isso dentro do território de uma nacionalidade específica. É uma forma em que eu experimento essa linguagem da poesia.

Olhar Virtual: Qual foi seu objetivo com esta obra?

Ronaldo Lima Lins: O que tentei foi traduzir em palavras traços da minha existência, da minha aventura existencial. A poesia toca fundamentalmente nisso: ela é ao mesmo tempo, como a filosofia, um voo ao nível da reflexão. Acho que a poesia é um gênero que normalmente se diz uma coisa de jovens, mas isso é uma coisa que se diz porque Rimbaud (poeta francês) escreveu com 16 anos e depois deixou a poesia, mas se você pensar bem, a poesia depurada necessita de uma grande base de experiência humana e experiência intelectual, capacidade de mergulhar nas entrelinhas, nos espaços diminutos. De sair dos espaços diminutos em direção aos mais amplos.

Olhar Virtual: Existem diferenças entre a poesia feita pelos jovens e por pessoas mais maduras?

Ronaldo Lima Lins: Os jovens têm paixão, mas os homens maduros também têm. A poesia é, às vezes, um momento de inspiração, mas ela não pode ser apenas isso. Eu não teria escrito este livro com 16 anos. Eu necessitei dessa bagagem para escrever esta obra. Rimbaud foi uma exceção.

Olhar Virtual: O que é a inspiração?

Ronaldo Lima Lins: A inspiração é aquela luz que de repente se acende, mas ela não basta se o escritor não tiver a noção do ritmo, de estilo. A poesia não é hoje mais rimada. Abandonou-se isso, o que acho positivo, pois se prendia a poesia a uma camisa de força. Ela é muito mais solta, mas ela não abre mão de suas próprias leis. Ela necessita de um ritmo poético. É preciso saber o que dizer e saber como dizer, se não ela não vai funcionar. Só a inspiração sem ter esses ingredientes que você acumulou e aprendeu tornam o trabalho mais difícil.

Olhar Virtual: E de onde veio a sua inspiração?

Ronaldo Lima Lins: Muito da minha inspiração veio do diálogo e contato com os alunos da Faculdade de Letras. Há uma efervescência lá, o que me ajudou a entrar em uma área que não tinha experimentado ainda. Essa afinidade com o grupo de poetas da Faculdade é um ponto importante. Há vários grupos de poesia lá. A Roda, Assaltos Poéticos, entre outros. O grupo A Roda, aliás, fará uma apresentação no dia do lançamento de “Mais do que areia menos do que pedra” declamando poemas do livro.

Olhar Virtual: Quais as dificuldades em se fazer poesia no Brasil?

Ronaldo Lima Lins: Um das dificuldades da poesia é que ela não tem espaço comercial. A tiragem é muito reduzida no Brasil, então o espaço é quase nenhum na imprensa, nas editoras. A necessidade de retorno financeiro imediato vai desfigurando o mundo das ideias. Por isso, é importante o universo acadêmico, pois se mantém uma chama dessas coisas que não tem valor comercial. Ali na FL há um público. Eles levam adiante essa afinidade.

Olhar Virtual: Escrever é um diálogo entre o escritor e o leitor. Como vai ser o seu bate-papo com ele neste livro?

Ronaldo Lima Lins: Minha conversa com ele é uma conversa sobre a vida. Sobre as questões fundamentais da vida. Dialogo através daquilo que buscamos entender, mas que não possui respostas. É um ponto de partida para reflexão. Não é um poema apenas para sentir, mas questionar a ideia de paisagem. A leitura é um diálogo que se trava consigo mesmo. É uma experiência existencial.

Olhar Virtual: O que quer dizer com o título?

Ronaldo Lima Lins: A capa reproduziu de certa maneira a ideia contida no título, que é a noção de interstício, no caso da capa, a sombra formada entre a areia e a pedra e que não é nenhuma das duas. Há um espaço entre uma coisa e outra. O conceito geral desta obra é, posto de forma sutil, a ideia dos interstícios existentes na vida. Esse título faz parte de minha busca pessoal, mas o fundamental da busca não é encontrar algo, mas o processo. Chego para partir outra vez. Encontrei uma ideia, me apaixonei por ela, morro e vivo por ela, mas já chegou o momento de deixá-la.

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